sábado, 12 de abril de 2014

Sem Barganhas com Deus - Caio Fábio

Estou postando aqui o resumo do livro 'Sem Barganhas com Deus', de Caio Fábio. Um livro muito bom, eu diria que é o melhor livro que li nos últimos vinte anos, portanto esse resumo de modo algum pode suprir a leitura integral do livro. 

Diz o autor que a Moral é incompatível com a Verdadeira Liberdade porque ela nos manda de volta para a Lei, seja ela a Lei de Moisés ou a Lei Existencialista. Se estamos mortos em Cristo para os rudimentos do mundo, por que, então, como se ainda estivéssemos presos ao mundo, nos sujeitamos a ordenanças; não toques isto, não proves aquilo e manuseies aquilo outro? Colossenses 2:20-21. Paulo afirma que, na maioria das vezes, esses “rudimentos” tentam se interpor entre nós e a “liberdade em Cristo” e nos remetem para a associação entre a Salvação e a Lei, o que anula a Cruz de Cristo! A Lei nos foi dada para que se avultasse a doença do pecado essencial, e não para que nós fôssemos salvos por ela. A Lei faz o diagnóstico! A Cruz traz a salvação! 

O vencedor é aquele que aceita a vitória de Cristo como sua e crê nisso como sua vitória. O vencedor é um ser humano que sabe que nada poderá separá-lo do amor de Deus que está em Cristo Jesus, e, portanto, não busca meios de auto-salvação, mesmo “em nome de Jesus” — como parece ser a justificativa dos lobos vestidos de peles de ovelhas, que usam Seu Nome, fazendo-o “carregar” a mensagem de um anti-evangelho!

Se há Moral, não há liberdade! Mas se há “liberdade em Cristo”, não há a prática cínica da iniquidade! A Moral mata “a liberdade que temos em Cristo”— a única que deve ser reconhecida como tal. A liberdade em Cristo — que é fruto de nos conformarmos com Ele na Sua morte e sermos achados Nele, não é compatível com nenhuma forma de Moral, pois, seu fruto — o da liberdade — não é outro que não seja justiça, paz e alegria no Espírito Santo.

Quanto mais Moral uma sociedade é, mais politicamente correta ela se mostra, com menos liberdade ela se expressa, e mais doente ela se torna.

A “Quase-Graça” sempre foi a maior tentação do Cristianismo Institucional Histórico, em todas as suas variáveis e subgrupos. É possível encontrar indivíduos com uma compreensão séria da Graça. Mas raramente esta virtude pode ser encontrada na dimensão institucional da fé. Se fôssemos, todavia, eleger os melhores híbridos da Quase-Graça, na minha opinião, os grupos que guardam o sábado e outros ornamentos da Lei, ao mesmo tempo em que confessam a Jesus como “Salvador”, seriam os mais coerentes. Esses, pelo menos, assumem seu estado “intermediário”, seu limbo, sua “síntese conciliatória” entre a Lei e a Graça. Os demais os acusam de serem “seitas heréticas”, mas na prática, levando-se em consideração os conteúdos da fé em questão, não é possível distinguir essas preconceituosamente chamadas “seitas cristãs” do espírito de limbo — de Quase-Graça — que permeia a totalidade do Cristianismo Institucional, seja qual for sua expressão histórica.

A esses, Paulo diz: “Foi para a liberdade que Cristo vos libertou”; e, então, conclui: “Não useis da liberdade para dar ocasião à carne. Todavia, se levarmos em consideração o cerne e o todo da Escritura, eu diria e digo que não é possível se crer em nenhuma Teologia Moral e, ainda assim, permanecer sob a Graça de Cristo. Jesus resumiu tudo ao dizer que a Lei e os Profetas poderiam ser trazidos para dentro de uma única equação: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”. Por isto, também, pode-se afirmar que a Moral — como mediadora e justificadora das relações do homem com Deus — é irremediavelmente pecado, visto que ela não provém de fé. E tudo o que não provém de fé, é pecado!

Entretanto, aos sentidos da Moral, Abraão é um fanático enlouquecido. Isto por que a Moral “justifica”, não pela fé, mas pela “aceitação” da maioria. E o que dizer de seus filhos? De seus homicídios, incestos, prostituição e inimizades crônicas? E como, apesar disso, continuaram a ser objeto de benção e Graça? E o que dizer de Sansão? Onde ele estaria hoje? Não consigo vê-lo como pastor, mas como interno em Bangu I, conforme os padrões morais e legais de hoje. Aliás, a leitura dos livros de Josué e Juízes, pela Moral, inviabilizariam a presença e permanência de quase todos aqueles seres referenciais na Galeria da Fé em Hebreus 11.

As matanças, invasões de territórios que pertenciam a outros, e a eliminação de civilizações inteiras, todas ordenadas por Deus, como podem ser explicadas? Foram aqueles atos, fatos que poderiam ser aprovados pela nossa Moral vigente?E o que diremos de Davi, que só não proibia seus homens de se apoderarem de mulheres quando estavam em guerra? Ou que dava a si mesmo essa liberdade, tendo pecado, nesta área, segundo o relato bíblico, apenas quando invadiu uma propriedade privada, tomando a mulher que pertencia a outro?

A quantidade imensa de violência instruída divinamente no V.T. nos incomoda até hoje. E por quê? É porque aquelas “instruções” ainda que divinas, já não se amoldam à nossa consciência legal e Moral. Assim, pela Moral não apenas Davi está condenado, mas também todos os seres virtuosos da própria Genealogia de Jesus, pois, não há o que dizer de Manassés e de quase todos os demais!

Por exemplo, o que podemos dizer das “indecências bíblicas?” Isaías andou nu três anos em obediência a um mandato divino. Quem hoje o faria? Ou, quem diria: Ali vai um homem, carregando não apenas a Palavra, mas tendo que ser a mensagem?! Os exemplos seriam infindáveis, mas basta-nos ficar aqui. O que vale, todavia, afirmar são duas coisas: o Novo Testamento não trata esses homens como imorais ou bárbaros, ao contrário, os coloca entre os homens dos quais o mundo não era digno; e mais, a genealogia de Jesus inclui a muitos desses seres aberrativos, sem exclusão, antes com toda a verdade, os posiciona na linhagem genealógica de Jesus, o Cristo.

Leia Hebreus 11, todo o capítulo, mas, especialmente, o verso 38. Todos eles, os bons e os duros; os justos e os obedientes em sua loucura — todos seres esquisitos do ponto de vista de nossos juízos modernos estão na mesma galeria de homens dos quais o mundo não era digno. E todos eles foram apenas e sobretudo "justificados pela fé". A diferença, todavia, é brutal: por razões que somente a Deus pertencem, eles estão na referência canônica dos“homens dos quais o mundo não era digno”. 

O princípio enunciado em Atos 15: 19-20 e 28 nos revela que a própria consciência apostólica estava em crescimento no que respeitava ao que era “a essência do evangelho” e o que era “a cultura religiosa judaica”, e que por muitos era usada como força moral e legal opressiva sobre aqueles que estavam apenas desejando conhecer a Jesus e seu evangelho. A salvação está apenas em Jesus e em Seu Evangelho, não nas formas, costumes e culturas dos tempos bíblicos, ou de qualquer outro tempo — muito menos de nosso tempo! Se a “moral bíblica” é considerada como obsoleta e a Lei apenas como “aio”, então o que dizer de nossos usos, costumes, morais e leis? Para quem vive no Geral, elas têm sua utilidade. Mas para o ser que busca sua própria individuação em Deus, elas são a morte do ser!

Havia duas grandes acusações que os defensores da Teologia Moral faziam a Jesus em Seus dias: Sua megalomania messiânica, que o fazia declarar-se igual a Deus; e Sua capacidade de tranquilamente transgredir as morais vigentes em nome do amor, da justiça, da verdade, da compaixão e da misericórdia.

Então, depois disso, mais uma vez você se pergunta: para o quê, então, serve a Moral? E eu, mais uma vez repito que a Moral serve, na melhor das hipóteses, apenas para dar limites ao Geral, pois ela é o Geral, conforme a maioria dos homens — pois entre os homens sempre há barganhas a fazer. Todavia, em relação a Deus, ela não serve para nada, exceto para dar aos humanos uma sensação de segurança e auto-justificação, além de oferecer um instrumento obtuso e injusto de juízo do próximo! A libertinagem gera dissolução para o ser! A Moral realiza a diluição do ser! Ambos os pólos adoecem a existência!

O mais interessante de tudo é que o Novo Testamento afirma nossa total libertação da Lei e da Moral, mas não “para dar ocasião à carne”. A inclinação normal do Homem Natural é para Religião ou para qualquer outra forma de auto-justificação ou de auto-glorificação. A Religião pode até mesmo se tornar o esconderijo de almas amantes do mal, e que escolhem o melhor de todos os escudos para sua camuflagem: a Moral religiosa! O problema é que o “cristão” ainda tem que sofrer mais que a culpa — na maioria das vezes, mais neurose que “culpa”; ou mais cinismo do que “paz”—, que é a presença semidivina da “igreja”, que se arroga o papel de ser a detentora histórica do “bem” e do “mal”.

Quanto mais uma pessoa se dedica à letra, menos se dedica à Palavra e mais distante fica de Deus. A letra mata! E, aqui, Satanás nos chama para a tentação do letrismo, do literalismo, das exegeses sem o Espírito, para os códigos de obediência externos, para o marketing religioso, para o exame anatômico das letras da Escritura para ver se “nela” encontramos o “espírito”— inversamente — conforme os “materialistas russos” do século passado que dissecavam o corpo para demonstrar a inexistência do espírito —; e, nesse ponto, Satanás também nos incita à “possibilidade” deescravizar Deus às “ordenanças de nossas profecias”. Afinal, “está escrito!

E, neste aspecto, basta ouvir programas cristãos no rádio ou vê-los na televisão, ou mesmo, basta ir à maioria das “igrejas de poder”, que se verá a “hermenêutica de satanás” sendo pregada. É quando Deus tem que “obedecer” à Sua Palavra em sujeição à ignorância humana, ou quando Ele tem de se tornar “cúmplice” da pilantragem realizada em Seu nome. E mais, isto acontece também quando Deus tem que cumprir a “Escritura”, que no caso foi objeto não só de exegese satânica, mas também teve seu aplicativo “cristão” muito bem “apropriado” aos interesses financeiros, psicológicos. Neste último caso, é quando se “usa” a Palavra para se “construir” uma teologia ou uma Moral que reflita não a verdade da Palavra, mas um exercício satanizado de capacidade interpretativa, fundado na doença Moral-psicológico-teológica do “messias” ou “escriba” ou “fariseu” em questão!

Sempre que se obedece à Escritura por causa dela mesma se está cedendo à tentação do Diabo! A grande tentação é fazer a Escritura se passar por Palavra. As Escrituras se iluminam como a Palavra somente quando aquele que a busca tem como motivação o encontro com a Palavra de Deus. Ou quando o Deus da Palavra fala antes ao coração! A Bíblia é o Livro. A Escritura é o Texto. A Palavra, É !!!

A “Escritura”, sem Deus, é apenas um texto religioso aberto a toda sorte de manipulações! O processo começa com a testificação do Espírito — pelo testemunho da Palavra — de que somos filhos de Deus. Depois, nos aproximamos da Escritura, pela Palavra. E, então, salvos da “Escritura” pela Palavra, estudamo-la buscando não o seu poder ou o seu saber, mas a “revelação” imponderável acerca da natureza e da vontade de Deus, que daquele “encontro” — entre a Escritura, a Palavra e o Espírito — pode proceder.

Um ser “predisposto” ao sucesso teria pulado do Pináculo em “obediência” à Escritura e à sua literalidade, violando, para sua própria morte, a Palavra. Sim! Estava escrito. Ora, é em cima do que está “escrito”, que não só se comete “suicídios”, mas também se mata aqueles que se fazem “discípulos” de sua arrogância, os quais, motivados pelas falsas promessas, atiram-se do Pináculo do Templo abaixo. E é por causa desse tipo de obediência à letra da Escritura que muitos morrem. A letra mata! A única ética cristã possível é fruto da liberdade! Se o interesse de Deus fosse ter filhos que o obedecessem por ignorância ou medo, melhor teria sido que nos tivesse deixado no estado adâmico, antes da Queda; ou seja: no Jardim das Não Escolhas — onde não houvesse também a Árvore da Tentação! Afinal, para os que desejam encontrar o Caminho Para a Árvore da Vida com as próprias pernas, deve-se lembrar que o Senhor posicionou um Querubim, com espada na mão, a fim de impedir tal acesso, pois, é da presunção de comer de seu fruto sem a mediação da Graça de onde procede toda Perdição!

É por isto que Paulo diz que contra o fruto do amor não existe Lei. Ao mesmo tempo, João diz: “Onde há medo, não há amor”. Portanto, o que sobra, é a Lei e seu maior derivado: a culpa amedrontada e que nos joga nos braços insaciáveis do pecado! Isto porque a Lei é a norma dos seres que não têm consciência própria, pois não têm liberdade para escolher por si mesmos o que é bom, sendo, portanto, escravos da Lei mesmo quando a cumprem, visto que, neles, a obediência não é verdadeira, não sendo, desse modo, nem pura e nem genuína. Portanto, não agrada a Deus. E por que é assim? É porque não é fruto da consciência movida pela liberdade do amor! Pelo contrário, é o produto do medo que se sujeita ao “Tirano” — no caso, Deus —, ao qual tem-se que confessar um amor que não se sente e cumprir regras que nem se aceita e nem se entende, na maioria das vezes!

“Não tentarás ao Senhor teu Deus”— respondeu Jesus. O que equivale a dizer: “Não use o que está escrito contra aquilo que Deus disse!”. Dessa forma, Jesus ensina que a obediência à letra da Escritura pode se transformar em obediência a Satanás, se o texto, sob qualquer que seja o pretexto — consciente ou inconscientemente — servir para produzir isolamento e independência em relação Àquele que o inspirou. A obediência medrosa pode esconder até mesmo ódio de Deus por ter-se que obedecê-Lo contra nosso próprio desejo ou concupiscência, que é a única obediência que os reprimidos e raivosos têm para oferecer em “sacrifício” de sua “fé”.

Às vezes, infelizmente, é esse letrismo ou essa liberdade construtivista ou crítica em relação ao texto, o que nos impede de ouvir a Voz de Deus! O que se diz é: “Ele dará ordens a teu respeito para que te guardem...”. Portanto, é Deus quem sabe a hora. É Dele e somente Dele a agenda. E qualquer tentativa de tirar a Palavra de Deus das mãos de Deus e colocá-la nas mãos do homem, dando a este o poder de decidir, de ordenar, de demandar, de liberar, ou de trazer da mera “Escritura” o cumprimento de suas promessas, conforme a agenda humana, é aceitar a sugestão de Satanás e é ensinar as pessoas a usarem a “Escritura” contra a Palavra e contra elas mesmas.

O que fazer com o “legalismo da Escritura” se somos salvos pela “fé na Palavra”? A participação de Paulo era — sem suficiência própria — apenas pregar o Evangelho da Graça e crer que o resto do trabalho era obra do Espírito de Deus. Paulo diz que a Lei e sua Glória são coisas de outrora, diante da sobre-excelente Glória do evangelho da Graça de Cristo. Todos os verbos por ele usados em relação à Lei a posicionam no passado da revelação da Graça.

O que segue é a incomparabilidade de ambas as revelações: A Lei era externa, a Palavra é interna. A Lei era o ministério da morte, a Palavra é o ministério da Vida. A Lei falava de condenação, a Palavra fala de justificação. A Leise desvanecia, a Palavra brilha de Glória em Glória. E é neste ponto que Paulo assume a maior ousadia quando compara a caducidade, o esclerosamento da Lei frente à eterna vida produzida pelo ministério do Espírito. O que Paulo nunca imaginou é que dois mil anos depois nós ainda constatássemos a mesma cegueira, e muito menos ainda poderia ele imaginar que tivéssemos que repetir a sua frase relacionada aos judeus legalistas, agora, reatualizada e aplicada aos “cristãos”: “Até hoje, quando é lida a Bíblia, o véu está posto sobre o coração deles” — é o que com dor melancólica tem-se que dizer acerca da grande maioria dos cristãos, especialmente de seus “líderes”.

Assim, onde está-há o Espírito do Senhor, aí está-há liberdade! Por muito menos ele escreveu aos Gálatas e aos Coríntios temendo haver corrido em vão! Mas, e se ele estivesse presente num ano eleitoral no Brasil? Se visse e soubesse de todas as negociações de almas-votos que são feitas em Nome de Jesus? Se visse “cristãos” curvados aos ídolos visíveis e invisíveis, cultuando imagens — que vão das de barro e gesso à imagem como reputação ou, marketeiramente, apenas como “imagem”? E se assistisse pela televisão à venda de todos os significados cristãos na forma de crença em objetos de energia espiritual pagã? E se visitasse uma “igreja” e visse as filas de pessoas para andarem sobre sal grosso, ou para mergulharem em águas tonificadas do Jordão e a passarem pela Cruz de Jesus, a fim de ganharem um carro zero, como pagamento pela sua crença? E se ele soubesse agora que a fé é um sacrifício que se expressa como dízimos, como troca de bênçãos por dinheiro, de cura pelo sacrifício de longas novenas e correntes, que só não são “quebradas” se a pessoa não deixar de largar sempre algum dinheiro no altar-bolso dos pastores?

Ora, dizemo-nos “salvos” pela Graça, na chegada. Daí em diante, somos “santificados” pela Lei. Então, ficamos numlimbo, num purgatório existencial sobre a Terra, pois, nem nos tornamos filhos da Graça a vida toda e nem nos entregamos aos rigores da Lei com honestidade. Desse modo, não usufruímos nem a saúde e nem a paz que vêm daGraça e, nem tampouco, conseguimos viver pela Lei. Ou seja, vivemos em permanente estado de transgressão e culpa.

Diz o autor que seu trabalho, há muitos anos, é tentar separar, ante a percepção histórica das pessoas, o que é o Evangelho daquilo no que o Cristianismo se tornou. Assim, vai vendo muitos voltarem a Cristo, ainda que, em muitos casos, jamais consigam botar os pés numa “igreja”. E, agindo assim, pensa estar, de fato, também evangelizando, anunciando a Boa Nova aos Gentios; ou seja, dizendo-lhes que estamos livres do Cristianismo a fim de podermos servir a Deus em novidade de vida e não segundo a caducidade da letra e nem tampouco de acordo com a perversão cristã do evangelho.

Assim faz por julgar que essa é a única maneira de ajudar aqueles que encontraram a Jesus, mas que jamais conseguiram encontrar, na Terra, a Sua Igreja porque esta não está perceptível aos nossos sentidos históricos, institucionalmente falando! O Cristianismo não carrega nem os conteúdos do Evangelho e nem se parece com Jesus! Jesus não veio ao mundo para criar um Circo, em alguns casos; uma Penitenciária, conforme outros casos; um Estado Soberano, conforme o Vaticano Católico e os “vaticaninhos” dos outros grupos e seitas cristãs; e, nem tampouco, um Hospício, como acontece na maioria dos casos!

Neste sentido, perdoem os irmãos que beatificaram São Lutero e São Calvino — que, sem dúvida, são “santos protestantes” com as mesmas características de infalibilidade interpretativa da Escritura de um Papa Católico —, acerca dos quais eu digo, — sendo muito menos atrevido do que Paulo — quando, do ponto de vista judaico de seus dias, disse “E não somos como Moisés...”—, que aqueles dois baluartes da fé, Lutero e Calvino, ainda ficaram aquém do que é radicalmente proposto, pois, por razões que somente a Deus pertencem, permaneceram ainda sob o jugo de Leis que, na prática, anulam a Graça em sua plenitude libertadora para a saúde do ser!

Diz o autor: E, aqui, não me refiro ao desaparecimento do Cristianismo. Falo apenas de sua irrelevância espiritual, não sócio-político-econômico-religiosa. O Cristianismo não desaparecerá e nem deixará de crescer em número e em poder terreno. Seus templos estarão cheios e seu fervor religioso pode até aumentar. Falo, sim, da impossibilidade dele gerar consciências sadiamente libertas do medo de ser e podendo experimentar a Graça de viver em Cristo, sem os temores que hoje são tão bem administrados pela “igreja”, na sua obsessão de ser a “conquistadora” do mundo e de seus poderes —incluindo almas humanas —, embora não ajude as pessoas a terem uma alma para gozar a vida em Deus e Deus na vida, ainda na Terra!

Quanto mais Moral é o consciente humano, mais adoecidamente tarado, lascivo e perverso o seu inconsciente será! Somente na Graça perde-se o medo de viver, de arriscar, de obedecer contra a vontade sem que se fique amargurado, de saber que estamos no Caminho em todos os sentidos: primeiro, porque estou em Cristo e usufruo de todas as certezas que Sua Palavra me dá; segundo, porque Ele cumpriu a Lei toda—interna, externa e não escrita—em Si mesmo, por mim. Portanto, em Cristo, eu sou um transgressor que não transgride, até porque já não possuo mais esse poder. Estou morto com Cristo. Resta-me, portanto, amá-Lo e prosseguir com Ele no Caminho. E mais, o resultado dessa Absoluta desculpa e dessa Total Responsabilidade é a Liberdade que se compraz em agradá-Lo e se satisfaz em viver de Seu amor.

A Graça só alcança quem não compete por ela, mas, simplesmente, a constata com gratidão. O problema é que o modo de Jesus “cumprir” toda Lei, em Sua vida histórica, foi “interpretado” sempre como descumprimento da Lei. Então, vê-se que até no modo de Jesus “cumprir” a Lei, a religião enxergou como “descumprimento”. O que isto significa? Primeiro que as Hermenêuticas da Religião acessam a Escritura, mas não enxergam a Palavra; lêem o que está “escrito”, mas não discernem o que está dito. Segundo, para poder rasgar o escrito de dívida e encravá-lo na Cruz, pois, só Ele cumpriu toda a Justiça de Deus, e não do homem. Jesus propõe que tomemos a iniciativa sempre — sem amargura, sem troca e sem negociação — e tratemos o próximo, seja ele quem for, do modo como gostaríamos de ser tratados se estivéssemos no lugar dele. E aqui não importa em que lugar o outro está, pois, a única pergunta a fazer é: “E se eu estivesse nesta situação, como gostaria de ser tratado?” Ou ainda, uma única confissão de fé a ser declarada sempre: “Sistematicamente farei pelos outros aquilo que desejo que os outros façam também por mim o tempo todo”.

A questão é, como já vimos, que a Graça é um problema para os cristãos desde o início. Ela é um problema na mesma medida em que por ela a Verdade nos Liberta, conforme o testemunho do Espírito de Deus em nossos corações. Todavia, quem, de fato, quer cura e libertação? O problema da Graça é a liberdade que ela gera. Liberdade é apavorante, nos deixa sem chão, nos obriga a andar com as próprias pernas, concede-nos a benção de pensar, sentir, discernir e nos julgar.

Paulo nos ensina que quanto mais Lei ou Moral, mais conhecimento do pecado. E, sendo assim, mais a neurose do pecado se instala em nós. Ou seja, a Lei gera a certeza da culpa e esta nos deita nos braços do pecado. E por quê? Porque a Lei gera neurose, que produz a obsessão de vencer por conta própria “o pecado que habita em mim”, segundo Paulo. O paradoxo acontece quando se descansa em Cristo e em Sua Graça e, assim, pára-se de lutar contra si mesmo. Jesus já agradou a Deus em meu lugar! E quando sou liberto de todo medo pelo amor de Deus revelado naCruz — pois no perfeito amor não existe medo de nenhuma forma de juízo —, então, a alma encontra o seu ninho e experimenta uma paz que não foi produzida pela justiça-pessoal desse “pseudo-herói-humano das virtudes auto-conquistadas”. Nada há mais terapêutico que a Graça, pois ela nos desneurotiza a existência, livrando-nos de toda culpa de ser.

Ao contrário, “o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele (Jesus) e pelas suas pisaduras fomos sarados”. Assim, os doentes já estão sarados para poderem ser curados à medida que descansam no amor que tira da alma toda fobia, toda dívida e toda neurose. Ora, quando isto acontece o mundo deixa de ser um lugar onde sou tentado, e passa a ser o lugar onde eu vivo. Não sou tirado do mundo, sou livre do mal. E isto só acontece quando se entende que esse “mal” nasce, antes de tudo, dentro daquele para quem todas as coisas são impuras.

Somente a Graça torna todas as coisas puras, para os puros. E é também a Graça que nos liberta dos tabus em relação a tocar coisas, nos salva do poder sedutor dos objetos estéticos de apreciação; e ainda dos gostos, das opções e escolhas de natureza pessoal; pois, é apenas quando a vida é desdemonizada que se pode experimentar a plenitude dos nossos sentidos, sem nos deixarmos tomar pela sensualidade escravizada pela obsessão da sedução ou da posse.

Todavia, o mais chocante de tudo isto é que Jesus afirmou “aos amigos de Jó” de Seus dias — os religiosos que praticavam a Teologia Moral de Causa e Efeito — que sua cristalização à Lei e seu legalismo exterior, os havia tornado“filhos do diabo”; e, portanto, isto os colocava na posição de “querer satisfazer-lhe os desejos”. O intrigante é que esse discurso de Jesus não é dirigido aos que “quebravam a Lei”— meretrizes, publicanos e demais pecadores —, mas diretamente aos que se diziam os “mestres de sua observância”. Para Jesus, esses eram os seres com maior poder de corromper e afastar o outro da experiência genuína de Deus.

Não há compulsão satânica mais forte na alma que aquela gerada pelo fanatismo à Teologia Moral! Esse é o “desejo do diabo” a ser satisfeito pela Lei e seus discípulos! E quando vemos sua prática de modo grotesco, nos chocamos, como, por exemplo, quando homens-bomba, pilotos suicidas, terroristas jovens e outros fanáticos, crendo nessa Teologia, punem seus “opressores” com a morte e entregam-se a ela por uma razão: a teologia deles também é uma Teologia Moral! Desse modo, devo outra vez afirmar que quanto mais Moral for o consciente, mais pagão será o inconsciente humano.

Paulo diz que na Cruz todos nós, que um dia estivemos casados com a Lei, nos tornamos viúvos desse ex-maridotirânico e despótico, que foi executado em Cristo e no cumprimento de toda justiça por Ele realizada a nosso favor, a fim de que agora possamos nos casar sem culpa e sem nada além da chance de um novo amor: o amor de Cristo. Sem o descanso que vem da Graça em Cristo e da certeza de que Ele já agradou a Deus por mim, o que sobra é apenas a doença de ser, de onde se derivam todas as nossas neuroses, esquizofrenias e psicoses.

Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus. Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte. Em Jesus Cristo, e por Ele ter quebrado na Cruz a Maldição da Lei, temos todas as nossas dívidas pagas e podemos experimentar a paz de consciência que liberta o nosso inconsciente de suas produções compulsivas e adoecidas.

Mesmo entendendo o que Paulo nos disse até aqui, o temor da maioria dos cristãos é que a Graça os entregue a si mesmos. Ora, isto é apavorante para grande parte dos cristãos que eu conheço. E entre esses muitos, há muitas pessoas sinceras, porém, existindo num limbo onde nem se entregam aos rigores da Lei e nem se rendem alegremente àquilo que Jesus conquistou para nós na Cruz!

A Graça não é compatível com a entrega da vida à pratica do pecado e da iniquidade! Veja que é o “andar no Espírito”aquilo que nos tira de sob a Lei, e, ao mesmo tempo, também nos liberta da “concupiscência da carne”. Ora, isto mostra apenas duas coisas. A primeira é a seletividade da escolha cristã em relação ao que julga ou não importante para si mesma, portanto, não se colocando sob a Palavra de Deus, mas sob seu próprio critério de legitimação de importâncias. A segunda é a identificação dos valores usados pelos cristãos de hoje para fazerem essa seletividade na Bíblia, e que se baseiam em dois critérios: um de natureza Moral – prostituição, impureza, lascívia e bebedices —, pois, no meio cristão as fraquezas da área sexual são entendidas como as mais graves, visto serem percebidas como morais, e o mesmo se pode dizer da embriaguez crônica — ou seja, das bebedices —; e outro critério de natureza espiritual,que são as idolatrias e as feitiçarias. Isto porque ao fazermos de qualquer coisa Lei, nos colocamos, outra vez, sob a necessidade de sua observância absoluta!

E quando olhamos para os demais vícios e doenças da lista de obras da carne que nós deixamos de fora do código de importâncias cristãs, fica clara uma coisa: para os cristãos de hoje, o comportamento observável é preso apenas aos elementos de natureza sexual — prostituição, lascívia e impurezas — e aqueles que ferem as doutrinas espirituais da fé cristã — feitiçaria e idolatria — são os únicos que nos perturbam. Os primeiros são considerados de natureza Moral e os dois últimos de natureza doutrinária. Ou seja, tudo o mais da Lista, e que envolve crescer na perspectiva interior, psicológica e espiritual, não nos interessa. Interessam-nos apenas aquelas coisas que servem para ser mostradas; ou seja, aquilo que aparece na perspectiva comportamental.

Ora, ele começa dizendo que o que nos salva é estar em Cristo e andar no Espírito. Quem está em Cristo já não está sob a Lei, nem mesmo as da Lista de Paulo. E quem anda no Espírito, vai sendo levado não para o caminho de baixo — o das animalidades entregues a si mesmas —, mas para as veredas mais elevadas da consciência, pois, contra o “fruto do Espírito”— amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio — não há Lei.

O que nos salva é “estar em Cristo e ser achado Nele”. A segunda é que, até mesmo do ponto de vista psicológico, o melhor meio de vencer a Lista não é lutando contra ela, mas buscando viver e praticar o fruto do Espírito, sem nem mesmo nos lembrarmos da Lista. (Essa lista são as obras da carne, onde Paulo fala das obras da carne e frutos do Espírito).

Ou seja, ninguém vence o que não quer ser lutando contra a Lista de modo neurótico. Podemos vencê-la quando não a alimentamos com as nossas próprias energias, e quando negamo-nos a arregimentá-las para o combate contra a Lista, antes, porém, fazendo nossas energias interiores convergirem para o prazer de ser, pois, o fruto do Espírito só acontece mediante o prazer de ser-estar em Cristo, mesmo que na prática ainda caminhemos de modo conscientemente relativo sobre a Terra. “Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade; porém não useis da liberdade para dar ocasião à carne; sede, antes, servos uns dos outros, pelo amor. Porque toda a lei se cumpre em um só preceito, a saber: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Se vós, porém, vos mordeis e devorais uns aos outros, vede que não sejais mutuamente destruídos. Digo, porém: andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne”... Irmãos, se alguém for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi-o com espírito de brandura; e guarda-te para que não sejas também tentado. Levai as cargas uns dos outros e, assim, cumprireis a lei de Cristo.

Portanto, vence-se a carne andando-se no Espírito e não praticando a Teologia Moral dos Amigos de Jó, com seus juízos e auto-exaltação contra o próximo. Ao contrário, como já vimos, a ética da fé é o amor a Deus e ao próximo, mesmo o inimigo! Quanto mais o irmão!? E se é assim, a conclusão é simples: a maior agressão à Graça não vem de lábios blasfemos, mas de lábios auto-confiantes e que cometem a arrogância de, em nome de Jesus, viverem uma fé que nada mais é que negação dissimulada da Cruz. Esses permanecem sob juízo. Portanto, o caminho da Graça não cria o espaço da libertinagem, mas tão somente o da liberdade de ser, sem os medos que decorrem das neuroses provocadas pela Lei ou pela Lista, seja ela qual for.

Confessar ou negar o Nome de Jesus diante dos homens, não se trata apenas de dizer “eu creio em Jesus”; trata-se, antes, de crer que o que Ele fez a nosso favor é o único caminho de salvação, e o resultado disso, tem sempre que ser descanso na Graça que, em Cristo, nos salva da Lei do pecado e da morte. Há muitos cristãos se sentindo “culpados” e “desviados” do Caminho porque não conseguem gostar e nem se sentir bem no Circo Eclesial Moderno. A esses digo: Não temam. Não gostar “disso” é sinal de saúde espiritual, e, no mínimo, de bom gosto.

É tão fácil perceber a factualidade dessa afirmação até mesmo quando se considera alguém “desviado” do Caminho apenas porque tal pessoa não suporta mais o convívio adoecido, repetitivo, desinteressante e presunçoso da Instituição que Representa Deus na Terra! Ela é blasfema porque toma para si esse papel “sacerdotal-mediador” entre Deus e os homens. E nessa nossa Era de Apóstolos de Circo, não de Cristo — quando se pode vê-los “ligando” e “desligando” seres humanos do Corpo de Cristo ao seu bel prazer — tem-se que admitir que nos tornamos, quase todos, filhos de uma religião pré-cristã.

Portanto, confissões do Nome de Jesus, que não se fazem acompanhar pela certeza da Graça, não são diferentes de quaisquer outras confissões de fé que não proclamam o nome de Cristo. Uma opção bem melhor que o Cristianismosem a Graça é o Taoísmo com sua “Sabedoria”. Ali, pelo menos, ensina-se o ser humano a pensar, a sentir, a se descobrir, a olhar para dentro e a não julgar o próximo. E como é possível ser de Jesus se “compactuamos” com as mesmas forças históricas e espirituais—refiro-me ao legalismo, ao moralismo e à arrogância do conhecimento de toda a verdade, encarnados pelos fariseus e as autoridades religiosas que o entregaram à morte — contra as quais Ele se insurgiu durante todo o Seu andar na Terra?

Termina o autor afirmando: Eu creio na Graça de Nosso Senhor Jesus Cristo e sei que tudo o que não provém de fé na Graça de Deus é pecado!